UFC – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (Departamento de Letras
Vernáculas).
Dinâmica
entre a realidade e a ficção em “NOVE
NOITES” de Bernardo Carvalho
Assuério
Marcos Alves (2017)
(Graduado
em Letras Português)
Fortaleza-CE,
23 de Maio de 2017.
Resumo:
Este ensaio-portfolio,
que faz parte da ultima atividade da disciplina de Literatura Brasileira IV, pretende
mostrar a fantástica habilidade de Bernardo Carvalho em seu romance “Nove
Noites”, onde o autor traça uma dinâmica altamente admirável entre a realidade
e a ficção. O narrador, que aparece como jornalista, mantém o seu leitor sob
seu domínio no decorrer da produção, em uma busca obcecada pelo desvendamento
da morte de seu amigo Buell Quain. Apesar deste controle do autor, de alguma maneira,
vez ou outra, o leitor se perde frente a sua expectativa pelo desfeche da obra.
Os interlocutores que contracenam, parecem às vezes inseguros de suas
convicções, cambaleiam entre a verdade e a mentira, entre a realidade e a
fantasia, entre o medo e a esperança, culminando nos mais efetivos
questionamentos sobre a morte e seus efeitos posteriores.
Palavras-chave:
Realidade, Ficção, Vida, Morte, Suicídio.
Abstract:
This portfolio-essay, which is part of the last activity of the Brazilian Literature IV course, intends to show a fantastic ability of Bernardo Carvalho in his novel "Nove Noites", where the author brings a highly admirable dynamic between a reality and a fiction. The narrator, who appears as a journalist, keeps his reader under his control, is not a producer of the production, in a search obsessed with unraveling the death of his friend Buell Quain. This control makes the author, somehow, at one time or another, the reader gets lost in the face of his expectation of joblessness. The interlocutors who appear, sometimes seem uncertain of their convictions, stagger between a truth and a lie, between a reality and a fantasy, between fear and a hope, culminating in the most effective questions about a death and it’s after effects.
This portfolio-essay, which is part of the last activity of the Brazilian Literature IV course, intends to show a fantastic ability of Bernardo Carvalho in his novel "Nove Noites", where the author brings a highly admirable dynamic between a reality and a fiction. The narrator, who appears as a journalist, keeps his reader under his control, is not a producer of the production, in a search obsessed with unraveling the death of his friend Buell Quain. This control makes the author, somehow, at one time or another, the reader gets lost in the face of his expectation of joblessness. The interlocutors who appear, sometimes seem uncertain of their convictions, stagger between a truth and a lie, between a reality and a fantasy, between fear and a hope, culminating in the most effective questions about a death and it’s after effects.
Key-words: Reality,
Fiction, Life, Death, Suicide.
INTRODUÇÃO:
A literatura é, não
somente o transporte que espera o leitor na próxima estação para uma viagem
terrestre, aonde o ambiente físico vai passando e deixando suas impressões
pelas janelas enquanto a maquina desliza sobre os trilhos em direção prevista,
ou até a parada em que o maquinista envia um aviso de que chegou ao fim da
linha, e que todos devem deixar os vagões, mas é, metaforicamente, uma aeronave
espacial que está a espera de seus tripulantes para uma viagem ao espaço, ao
universo, ao indizível, ao inenarrável e ao sonho de cada leitor. É assim que
se concebe a literatura! Ela existe para dizer muito em dizer nada; o escritor
não necessita de palavras para dizer o que deseja, a ficção fala muito quando
parece não dizer coisa alguma, seu sentido não faz sentido, mas é bem ai que está
todo o sentido. Tudo parece se estabelecer em cima da incerteza e da
instabilidade dos fatos. O narrador segue em busca da verdade que,
aparentemente, é encoberta por algum motivo e, isso, torna a leitura mais
excitante porque, quanto mais o leitor aproxima-se desta verdade, perde-se
dentro dela e torna-se mais apaixonado pelo desfecho que espera. Apesar das
incertezas, há, no fundo, uma esperança de que a verdade se estabeleça e, é
esse, o combustível que fará com que a aeronave percorra por todo o universo do
mundo literário pós-modernista em Nove Noites.
Essas escrituras
narradas pelo jornalista levam o leitor a uma trepidação durante o voo, as
vezes, parece que vai culminar em um grave acidente aéreo e que, a partir dali,
não será mais possível a historia ser continuada, no entanto, os passageiros
são salvos pela ultima página do romance quando descortina-se a historia e
mergulha-se, efetivamente no plano invariavelmente literário, traçando um
limite quase que invisível entre a realidade e a ficção.
1. Uma visão crítica da sociedade.
Carvalho consegue
reproduzir neste romance, um paralelo sobre questões etnológicas e polêmicas
tais como: alteridade, o respeito as diferenças, superioridade e inferioridade
entre os seres humanos etc. Ele poderia ter colocado sua visão sobre todas
estas coisas, mas preferiu coloca-las em uma bandeja nas mãos do leitor, de uma
forma bem misturada com questões sociais de ordens diferentes, a fim de que
fossem refletidas e sentidas pelas pessoas de sua sociedade.
Apesar de “Nove Noites”
ser visto como uma critica social, foi muito bem aceito, caiu no gosto da
maioria dos leitores e passou a ser visto como um romance culto. A trapaça que
há no desenrolar do romance parece ser a essência que cativa o leitor, apesar
da péssima sensação de que tudo será perdido, ele sempre estará pendurado pela
masmorra que ancora a tese de que tudo será resolvido em algum momento.
Carvalho utiliza um
jogo de linguagem que vai prendendo o leitor às suas artimanhas, aos sinais de
que não está em plena sanidade, expectativas sobre a verdade deixada nas
narrativas do narrador morto, seu amigo suicida Buell Quain.
2. A narrativa
O romance inicia-se com
o depoimento de Manoel Perna, escrevendo a um destinatário, e contando-lhe
fatos sobre as ultimas cartas deixadas por Buell Quain, que estavam de posse do
engenheiro, dos quais ele nunca imaginou que saberia em sua vida. O dialogo se
estabelece entre o locutor e o interlocutor, apenas através de um bilhete que,
possivelmente, era um indício de que a verdade finalmente seria revelada a quem
de direito.
Percebe-se, através da
narrativa, que o interlocutor é um ser misterioso a quem se destinava uma
missiva resolutiva sobre o caso de suicídio ou do crime do Dr. Quain:
"Vai entrar numa terra em que
a verdade e a mentira não têm mais os sentidos que o trouxeram até aqui.
Pergunte aos índios" (CARVALHO, 2002, p.7).
Os personagens que envolvem
o cenário diretamente, causam ainda mais a impressão de duvidas sobre as
afirmativas, uma vez que trata-se de índios desconfiados, encurralados, sem
terem a certeza de que são amigos ou inimigos dos brancos. O espaço torna-se um
ambiente escorregadio, instável, amedrontador, uma mistura de vivencia social
comum ao tempo com a vida ancestral, da vivencia comum ao ambiente com a guerra
e os conflitos das aldeias. Não há como o leitor prosseguir em sua investigação
junto ao narrador, com base em declarações de índios. Isso torna, no mínimo, a
esperança escorregadia, instável e incerta. O escritor utiliza o contrapeso que
deixa o leitor na poeira, se este decidir iniciar as investigações baseando-se
em fatos palpáveis. (...) “não me peça o
que nunca me deram, o preto no branco, a hora certa”. O material que o
leitor deverá ter em mãos, é o mesmo que o locutário do bilhete, apenas rumos,
relatos de índios e historias orais de alguém que não assinou o que proferiu:
“As histórias dependem antes de tudo
da confiança de quem as ouve, e da capacidade de interpretá-las”. (CARVALHO,
2002, p.8).
3.
As
personagens:
Uma das personagens importantes em “Nove
Noites”, é a do outro engenheiro, o ouvinte de Buell Quain, que o ouviu durante
as noites em que se encontraram. Este poderia ser alguém de uma conversa
confiável, todavia estava alcoolizado durante as confissões do suicida naquelas
noites, colocando em cheque a sua lucidez:
“O que agora lhe conto é a
combinação do que ele me contou e da minha imaginação ao longo de nove noites, disse
Manoel Perna, mantendo a narrativa na escuridão das nove noites, negando-lhe a
possibilidade de vir à luz”. (CARVALHO, 2002, p. 47),
O jornalista manteve em
seu domínio uma escritura do falecido direcionada a um fotografo amigo. A carta
era escrita em inglês, e estava sob sete chaves até aquela ocasião, e ele não
sentia-se preparado ainda para desvenda-la ao seu interlocutor.
As cenas começam a
ganhar movimentos quando as personagens começam a interagir entre si. Quando o
jornalista vê publicado em um jornal, um artigo no qual relata algo sobre a
morte do etnólogo Quain há 63 anos, sua primeira atitude foi a de procurar a
antropóloga que escreveu o artigo, de quem esperava receber informações
consistentes sobre o caso. Sua busca se intensifica a partir de então, porque
nasce-lhe uma espécie de obsessão que o faz sair a procura de Maria Júlia, que
havia flertado com Quain, uma moça que lia livros para os velhos no asilo; depois
busca dados com o professor Luiz de Castro Faria, que integrou a expedição de
Lévi Strauss, e que conhecera Buell Quain; ao próprio Lévi Strauss em
entrevista em Paris; ao rapaz que lia histórias para o velho fotógrafo na
enfermaria do hospital; aos filhos de Manoel Perna, Francisco e Raimunda e ao
filho do fotógrafo nos Estados Unidos... È feita uma verdadeira varredura desde
a sua infância em busca de registros e na tentativa de encontrar as dobras do
enigma, dando asas aos personagens que marcam o conflito da trama.
4. O testamento das noites
A escritura noturna secreta
que, inclusive, nomeia a obra, está como se fosse uma arma de desvendamento do
caso nas mãos do jornalista, no entanto, não lhe serve de ancora, nem de guia,
aliás, será que ela ao menos existiu? Os filhos de Manoel Perna “garantiram que ele não deixou nenhum papel
ou testamento, nenhuma palavra sobre Buell Quain” (p. 134). O narrador
chega a assumir o fato de que, realmente, estas escrituras nunca existiram, o
que apimenta ainda mais o desfecho da trama, já que é nesse documento que o
leitor passa a se apoiar para o grande desvendamento da obscuridade de Nove
Noites.
Por diversas vezes,
quando o narrador perpassa de um item para outro na escrita de seu bilhete, ele
utiliza a frase “Ninguém nunca me
perguntou. E por isso também nunca precisei responder” (páginas 13, 27, 60,
134, 136). Essa atitude narrativa com expressões de uso funcional da linguagem
coloca Carvalho na condição de um escritor culto. A aplicação dessas frases
repetidas vezes e em pontos intrigantes de enunciados, viabiliza a expressão
que traduz a indiferença de quem fala, a busca por uma verdade, faz lançar para
fora as lembranças de aventuras as quais nunca havia desejado reviver, tanto
quando esteve entre os índios Krahô, quanto quando esteve nos Estados Unidos.
5. As intenções do narrador
Quando o jornalista
procura a antropóloga, é indagado por ela concernente ao seu acentuado
interesse pelo caso de Quain. Ele não havia pensando com detalhes sobre isso
antes, provavelmente uma resposta que lhe veio à ponta da língua em um plano
ficcional, foi produzir um romance, mas não disse; Ela supôs. Ele aceitou a
ideia da antropóloga. É possível que Carvalho tenha mantido a ideia de romance
para o seu documentário na ficção, já visualizando seu sucesso literário no
cenário pós-modernista brasileiro, onde ficou farta a exposição de artistas que
passaram a brincar com o espaço, tempo e personagens de forma confusa e que dão
ao leitor a necessidade de empreender um maior esforço para viajar nesta
plataforma. O narrador deixa claro que, na verdade, havia intenções pessoais no
caso Quain, mas, certamente, o romance seria a porta de entrada para sua
obcecada pesquisa de campo.
O
trabalho investigativo do narrador inicia-se em busca da verdade sobre o
suicida Quain. Aonde há a possibilidade de qualquer informação, por pequena que
fosse, oral ou escrita, ele se dispunha a coleta-la. Detalhes comportamentais a
respeito de seu objeto de estudos e de sua família passam a deixar o
investigador intrigado; a mãe era uma mulher aflita, as cartas a Heloisa
Alberto Torres denunciam estranha ansiedade e temor; Quain parecia ter tido uma
doença misteriosa? O jornalista tem acesso a muitas das cartas deixadas pelo
antropólogo morto, no entanto, varias não foram localizadas. O fato é que a
duvida de que Quain sofreu um homicídio ou suicídio permeia o texto até o final
do romance e acaba não sendo esclarecido. O pesquisador transcreve parte de uma
carta de Manoel Perna à Heloísa Alberto, relatando que as fontes seguras de
informações sobre o caso vinham de relatos de índios que conviveram com Quain.
O narrador expõe no
quinto texto da narrativa, uma foto de pessoas que conviveram com Buell Quain,
no entanto, já não estão mais em vida e, portanto, levaram consigo ao tumulo as
informações másters de que precisava. O jornalista vai depositar sua esperança
no depoimento do professor Luiz de Castro Farias, um dos poucos vivos que conhecera
o etnólogo, porem este contribui muito pouco para sua pesquisa. (p. 32). As
informações colhidas em todas as suas fontes são breves, indecisas, incertas e
passivas de serem verdadeiras ou falsas.
6. Retrospectivas da infância do
narrador
Em meio a esta busca de
volta ao passado, de repente o narrador faz uma pausa nas investigações dos
testamentos e começa a narrar uma retrospectiva de sua vida na época de
infância, em cuja região morava também o seu amigo morto Buell Quain. O
jornalista abandona, por um momento, o foco investigativo e traz ao leitor um
pouco de conhecimento sobre a sua vida, comportamento bem típico dos escritores
pós-modernistas. Em sua saga, o narrador conta suas aventuras ao lado de seu
pai, um homem inconsequente que estava sempre invadindo o território indígena a
procura de desbravar as terras, e levando consigo o futuro narrador, ainda
criança. Em suas lembranças tão indecisas quanto o romance, ele descreve uma
casa verde, uma estrada que não leva a lugar algum, um caminho que vai para
onde não se sabe e uma escrita imprevisível dentre muitas outras posições
instáveis.
Uma
passagem textual onde mostra nitidamente toda esta imprecisão envolvida na
narrativa é quando o jornalista busca respostas para o significado do nome
“Cãmtwyon”, apelido que os índios Krahô haviam colocado em Quain, e tem sua
imprecisão nas respostas de um casal de índios estudado. O casal lhe explicou
que "twyon" quer dizer lesma, o caracol e seu rastro. O antropólogo de
São Paulo que ajudara o jornalista a chegar a aldeia, já havia lhe explicado
que “cãm” era presente e que os nomes dos índios nem sempre querem dizer alguma
coisa e, sobretudo, nada tem a ver com a personalidade da pessoa nomeada.
(p.80). Neste caso, o leitor fica sem a resposta da combinação dessas palavras,
assim como do significado de “Cãmtwyon”.
A
estadia do jornalista entre os krahô na (p.95), tinha a finalidade de
entrevistar o velho Diniz, o único entre os índios que conhecera pessoalmente o
etnólogo Quain. No entanto, sua insistência pela tão obcecada entrevista causa
um clima de desconfiança entre os índios devido à preocupação de que o passado
fosse trazido à tona e de que alguém dentre eles passasse a ser penalizado. O
clima fica bastante tenso para o leitor diante desta aproximação da ficção com
a realidade dentro desse conflito. O que torna tudo mais estrutural e
estilisticamente interessante é que, no fim das contas, a tal entrevista não
ajudou mais do que as outras fontes que o jornalista possuía e, além disso,
havia erros nos dados com relação à fonte oficial, que também não se sabe qual
é.
O
conflito dessa parte da narrativa é cativante porque faz surgir a pergunta: em
que resultou a viagem do jornalista aos Krahô? Afinal, ele detestava aquele
lugar que o assemelhou muitas vezes a um inferno onde viveu quando criança nas
andanças com seu pai, e a agora se vê ali, procurando saídas e peças para sua
pesquisa e não encontra, repetindo frustrações suas do passado e conhecendo
coisas sobre os sofrimentos dos quais Quain possa um dia ter sofrido disso até
a morte.
7. Desfecho
O romance toma um rumo
de ficção, finalmente, quando o jornalista resume a historia de Manuel Perna. A
relação da historia agonizante de seu pai desfalecendo em um leito hospitalar
com a de um homem norte americano que falecia de câncer aos 80 anos de idade
numa cama ao lado. Este, dizia esperar alguém, era o fotografo que foi amigo de
Buell Quain há 63 anos, e a pessoa que dizia esperar, provavelmente, fosse o
próprio Quain. Interpreta-se, assim, porque o velho confunde o jornalista com o
amigo que está esperando e chama-lhe de “Bill”.
"Quem diria? Bill Cohen! Até
que enfim! Rapaz, você não sabe há quanto tempo estou esperando" (p. 146).
Em seguida, morreu.
Depois de muitos anos,
quando o jornalista vê publicado em um jornal um artigo sobre Buell Quain, faz
a associação com as palavras “Bill Cohen”
que o velho havia lhe pronunciado antes de morrer e, a partir dai, segue a
procura da família do finado Norte Americano nos Estados Unidos, pois ainda
estava muito interessado em saber mais sobre os acontecimentos com o falecido
etnólogo Quain.
Ao chegar aos Estados
Unidos, o jornalista enfrenta muitas dificuldades em sua busca, pois, apesar de
depositar suas esperanças em uma apresentadora que era especialista em casos
semelhantes ao seu (p.155), foi justamente no momento do ataque as torres
gêmeas “World Trade Center” em Nova York e o contato foi perdido. Muitas
tentativas de contatos através de cartas foram feitas pelo jornalista a todos
os que tinham um sobrenome Kaiser e Quain da lista telefônica nos EUA, mas foi
inútil também, porque justamente naquela época, havia uma praga de bactérias
assassinas que chegavam às pessoas por intermédio de cartas rodeando o mundo e,
por isso, nem os correios as entregavam aos destinatários e quando as entregavam,
os destinatários não as liam com medo do contato com as bactérias.
O contato feito com Schlomo
Parsons, filho do falecido Norte Americano por via de cartas foi possível, mas pessoalmente
o homem evitava recebe-lo. Talvez por medo. Diante de tudo isso, o jornalista
vê-se, então, encurralado e obrigado a transformar sua pesquisa jornalística em
uma obra de ficção, como havia dito em muitos lugares anteriormente que faria,
mesmo que sem intensão. Esta era a única saída para não deixar perdido todo o
seu esforço e busca pelo caso Quain (p.157).
Apesar de tudo, o
jornalista conseguiu, finalmente, formar contato com Schlomo Parsons. Pega o
avião a parte para Nova York, porem já decidido sobre fazer o seu romance. Para
ele, por mais que aparecesse uma verdade absoluta sobre tudo, esse romance não
deixaria de ser publicado, mesmo que ele tivesse de amarrar a verdade na ficção
de forma que caminhassem juntas, muito embora alguém nunca pudesse
compreendê-la, já que ele também não havia compreendido.
O jornalista declara
que: “A ficção começou no dia em que
botei o pé nos Estados Unidos” (p. 158).
Apesar da conversa com
o Norte Americano e das fotos que viu, da aproximação da verdade ao olhar
imagens antigas que pareciam ser de Buell Quain, estava decidido a transformar
tudo em ficção. Nada mais do que escrevesse a partir dali seria tido como
verdade.
8. Conclusão
O romance termina,
então, quando acaba de ser iniciado. Parece cômico, mas é justamente essa
contrariedade, a dinâmica que há entre o real e o ficcional, que faz com que Bernardo Carvalho seja uma autoridade do
pós-modernismo brasileiro. Toda essa transposição da realidade a
ficcionalidade, toda essa estrutura é proposital e foi elaborada pelo autor com
fins lúdicos. O leitor é induzido a associar e a dissociar o autor à obra por
diversas vezes a propósito.
Nove
Noites é, portanto, uma espécie de
metaficção historiográfica, uma construção que leva, não a um desfecho
previsível e saciador, mas a uma leitura que induz possibilidades de alternativas
que, em sua maioria, são frustrantes, mas que dá ao leitor sempre um pé para um
recomeço.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO,
Bernardo. Nove noites. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
2002.
SILVA, Jhonatan Rodrigues Peixoto da. Nove noites, de Bernardo Carvalho: a questão do autor e as vozes narrativas (Bolsista do Programa de Apoio à Pesquisa da Uniabeu (PROAPE) 2013
2002.
SILVA, Jhonatan Rodrigues Peixoto da. Nove noites, de Bernardo Carvalho: a questão do autor e as vozes narrativas (Bolsista do Programa de Apoio à Pesquisa da Uniabeu (PROAPE) 2013
BOTELHO,
Lucas Cavalcante. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.
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