quarta-feira, 25 de maio de 2016

Eça de Queiroz e sua estética Naturalista em “O Primo Basílio”



Eça de Queiroz (1845-1900) foi um grande escritor português. A obra "O Crime do Padre Amaro" foi o seu primeiro grande trabalho, marco inicial do Realismo em Portugal. Foi o único romancista português que conquistou fama internacional nessa época e foi duramente criticado por seus ataques ao clero e à própria pátria.
O romance “O Primo Basílio”, escrito entre 1875 e 1877 e publicado em 1878 é o seu segundo romance. O realismo português tem na figura desse escritor o seu maior representante. Percebemos que Eça, como o maior representante do realismo português, não fugiu dos temas relacionados à sociedade, como se observa, por exemplo, em O primo Basílio. Passaremos agora a observar o comportamento de seus personagens e a critica do escritor feita à sociedade de sua época e ao romantismo, bem como sua estética naturalista defensora dos novos padrões realistas.

HEREDITARIEDADE
A Revolução Industrial iniciada no século anterior, na Inglaterra, provocou uma industrialização acelerada em vários países. As cidades cresciam rapidamente. Camponeses transformavam-se em operários urbanos e a vida cultural diversificava-se. Londres, Berlim, Viena e, principalmente Paris, eram o centro de um vigoroso processo criativo. Enquanto isso, Portugal mantinha-se apegado às glórias do passado. O país não chegou a desenvolver uma burguesia empreendedora e capitalista, nem uma elite intelectual significativa que fizesse desenvolver as artes e as ciências. Eça morou durante anos em vários países mais desenvolvidos na função de diplomata, talvez por isso, possuía uma aversão ao modo de vida rígido dos portugueses.
Portugal não possuía burgueses capitalistas. A elite em Lisboa era ligada a acontecimentos passados, a direitos adquiridos, a hereditariamente e não por inovação e esforço, não havia renovação na sociedade e isso impedia que o país obtivesse avanços para o futuro, o que indignava o autor, partidário de um movimento de jovens intelectuais que reagia contra o atraso de sua geração em seu país, chamada de “Questão Coimbrã”, que foi um dos primeiros sinais de renovação ideológica ministradas pelos jovens escritores.

CRÍTICA AOS VALORES BURGUESES
A burguesia lisboeta é o alvo da crítica presente em “O primo Basílio”, pois era uma classe social repleta de ociosidade e hipocrisia. Os casamentos estavam expostos ao adultério, que acontecia não só pela formação que as mulheres recebiam, mas também, pelo caráter corruptível das pessoas em geral, como destacado na carta a Teófilo Braga. Eça por intermédio deste livro inova a criação literária da época com uma crítica aos costumes da burguesia de Lisboa e para dar mais ênfase a esta crítica, ataca o casamento, uma das instituições mais sólidas daquele tempo. O adultério já era trabalhado pelo Romantismo, todavia Eça explora o erotismo quando detalha a relação entre Luísa e Basílio.
O realismo propõe uma criação voltada somente a fatos objetivos e reais. O romance passa a ser uma obra de combate, arma de ação reformadora da sociedade burguesa dos fins do século XIX, transformando-se por um lado, em instrumento de ataque e demolição e por outro, de defesa implícita de ideais filosóficos e científicos. (MOISÉS, 1972, p. 234)

CRÍTICA AO ROMANTISMO
Eça denuncia criticamente na obra, a educação romântica que a mulher recebia, segundo a qual o casamento era o objetivo final. Critica também os malefícios trazidos por essa educação, tanto para os homens quanto para as mulheres. Há, ainda, no romance, marcas visíveis de crítica a escola romancista, como por exemplo, as leituras feitas por Luísa, tanto na adolescência quanto em sua fase adulta.

IRONIA DESMISTIFICADORA DA IDEALIZAÇÃO DOS PERSONAGENS
A principal característica realista presente em “O Primo Basílio” é identificada a partir do comportamento adúltero dos personagens. Como o Realismo foca nas ideias objetivas e reais, Eça utiliza a traição como principal crítica da obra. Luísa revive seu primeiro amor com o primo Basílio. Foram namorados quando jovens, mas ele foi embora. Tempos depois, Luísa já estava casada com Jorge quando seu primo Basílio retorna a Lisboa. Seu marido estava viajando para muito longe a trabalho, com isso, a tentação, a sedução e o desejo sufocam-na, fazendo com que não resista aos investimentos galantescos de Basílio. Entrega-se a ele sussurrando: “Jesus! Não! Não!” - (...)“Apertou-a contra si, beijou-a; ela deixava, toda abandonada; os seus lábios prendiam-se aos dele. Basílio deitou um olhar rápido, em redor, pela sala, e foi-a levando abraçado,...
Luísa é uma jovem sonhadora e ociosa da sociedade lisboeta que acaba envolvida com seus sentimentos por Basílio, seu primo, com quem se reencontra, após anos de distância. Achando-a sozinha, já que Jorge, o marido, viajara a negócios, Basílio serve-se de sedução e galanteios, até levá-la a se envolver profundamente consigo, tornando-se seu amante. Juliana, a criada, descobre a correspondência trocada por ambos e chantageia a patroa. Após sofrer muitas humilhações e ter que se submeter aos caprichos da crudelíssima criada, Luísa consegue, ajudada por seu amigo Sebastião, recuperar as cartas e Juliana é pressionada a entregá-las, ante as ameaças, acaba morrendo do coração. Com o seu profundo sofrimento, Luísa adoece. Basílio se encontra nesta ocasião, longe de Lisboa. Jorge regressa ao lar. Certo dia, chega uma carta do primo para a esposa e o marido intercepta a correspondência e toma conhecimento de tudo o que ocorrera. Mesmo desesperado e sofrendo demasiadamente, Jorge resolve perdoar Luísa. Ela, no entanto, piora muito ao saber que o marido descobrira tudo o que fizera de errado, e vem a falecer. A reação de Basílio, ao saber da morte dela, é de desgosto, por ter perdido sua diversão em Lisboa.
Durante toda a narrativa, os personagens de “O Primo Basílio” denunciam e acentuam o compromisso com o seu tempo: a obra funciona como uma arma de combate social. A burguesia, principal consumidora dos romances nessa época, deveria ver-se refletida na obra e nela encontrar seus defeitos analisados objetivamente, para, assim, poder alterar seu comportamento.
Como bom observador e perfeito desenhista da realidade, Eça de Queirós caracteriza os personagens com variada notação de detalhes. Tal caracterização, sobretudo a de natureza física, é feita geralmente por processos diretos, seriação de atributos ou de locuções atributivas. Seus personagens são planos e construídos de acordo com os modelos deterministas da escola naturalista, isto é, o homem é o resultado do meio em que vive, do seu tempo e de sua raça. Apesar de meros tipos sociais, seus personagens criam história e nos fazem mergulhar de forma atemporal em todas as sociedades e, não raro, encontramos esses mesmos tipos em nosso meio, vencendo o tempo e a distância social e imortalizando-se na forma de verdadeiras caricaturas universais.
O narrador retrata como protagonista nesta obra, uma Luísa frágil, dependente e de personalidade socialmente moldada, construindo nela uma típica mulher burguesa, a qual de forma acentuada como Emma Bovary, se limita ao espaço doméstico. Ademais, as relações intra e também extrafamiliares ocorrem de maneira díspar e contraditória, uma vez que são observadas distorções entre as afirmações e julgamentos e as ações empreendidas pelos personagens. Deste modo, prevalece a comicidade na medida em que o leitor espera determinada ação da personagem, mas depara-se com uma ação divergente. Assim, é possível afirmar que, ao construir a personagem Luísa, Eça atua “naturalizando” o ideário feminino enquanto essencialmente paradoxal, uma vez que para ele a duplicidade era intrínseca a Luísa.

ANÁLISE DA OBRA “O PRIMO BASÍLIO”
O livro O Primo Basílio foi escrito em um momento de consolidação da escola – realista/naturalista em Portugal. O Realismo português propôs uma nova literatura que, em oposição ao Romantismo, tivesse uma função social clara, reformadora e engajada, com o objetivo de condenar os maus hábitos da sociedade lisboeta como: a crítica social, a exploração da sexualidade, a tendência à construção de personagens marcados pela baixeza de caráter, aos costumes, a narrativa irônica e a religião. Nessa nova perspectiva de literatura, Eça tinha em seu projeto "Cenas da vida portuguesa", nas quais pretendia pintar um retrato de sua sociedade, sobretudo em “O Primo Basílio”. Eça, em carta a Teófilo Braga, aponta sua intenção, ao escrever “O primo Basílio”. A minha ambição seria pintar a sociedade portuguesa, tal qual a fez o constitucionalismo desde 1830 e mostrar-lhe como num espelho, que triste país eles formam eles e elas. (...) "Ataco a família lisboeta, produto do namoro, reunião desagradável de egoísmos que se contradizem [...] um pequeno quadro doméstico, extremamente familiar a quem conhece bem a burguesia de Lisboa. [...] - enfim a burguesinha da Baixa."
No ano de sua publicação, a recepção de crítica do romance foi bastante negativa, principalmente pelos setores conservadores da sociedade lisboeta, que além de serem contemplados no retrato presente na obra de Eça, também estavam presos ao Realismo. Destaca-se, ainda, o fato do romance não possuir muitas características de estética Naturalista que revolva o gosto por termos técnicos das ciências, além de pregar o determinismo, em que o ambiente influenciaria os personagens.  Dentre as críticas negativas, destaque-se a publicada por Machado de Assis, em 1.878, na revista O cruzeiro.
Eça de Queirós ataca uma das instituições mais sólidas: o casamento. Com personagens despidos de virtude, situações dramáticas geradas a partir de sentimentos fúteis e mesquinharias, lances amorosos com motivações vulgares e medíocres, apesar de tudo isso, ao mesmo tempo em que ataca, desperta o interesse da sociedade lisboeta. Inova também ao incluir diálogos sobre homossexualismo. O autor, que já mostrara sua opção por uma literatura ácida e nada sentimental em O Crime do Padre Amaro, cria personagens fisicamente decadentes, cheios de doenças e catarros e de comportamento sexual promíscuo. O Primo Basílio é uma obra naturalista e realista.
Por Marcos Cavalcante.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SOLAR, Ambiente Virtual da UFC (Universidade Federal do Ceará). Disponível em: http://www.virtual.ufc.br/solar/aula_link/SOLAR_2/Curso_de_Graduacao_a_Distancia/LLPT/I_a_P/Literatura_Portuguesa_II/aula_04/imagens/02/primo_basilio.pdf Acesso em 05 de Maio de 2016.
QUEIRÓZ, Eça de. O Primo Basílio. 1°ed. São Paulo: Martin Claret, 2007.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. 33°ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.
Resumos de Livros, Portal Brasil Escola. O Primo Basílio. Acesso em 15/05/2016.
C.I.T.I. Centro de Investigação para Tecnologias Interativas. O Primo Basílio - Resumo. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. Acesso em 15/05/2016.

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